segunda-feira, 14 de março de 2011

VIAGEM...



Eu viajei em silêncio
Pelas entranhas de velhas bibliotecas
Sem bulir no sono das palavras
E silenciosamente
Sempre sonhei brincar de poeta
Para assombrar o mundo
Com os meus olhos de pernas compridas
Mas o tempo pintou de vermelho
As pétalas da minha paz
Quando abortei as primeiras palavras
Bastardas de minha garganta/cabeça virgem
E toquei/feri/envenenei os primeiros homens/monstros/deuses
Com a minha picada de querubim.
(...)

O intelecto humano é forçado a escolher
Entre a perfeição da vida e da obra
E se escolhe a Segunda...
Sujeita-se a viver sem a paz de um “solar”
Na escuridão que sobra.
(...)

Nestes sombrios recantos
Nestes saudosos retiros
Desliza um rio de prantos
E corre um ar de respiros/suspiros
Tenho na alma dois moinhos
Um é de água, outro é de vento
Ambos juntos e vizinhos
Estão sempre em movimento
E giros tantos e tantos
E tantos e tantos giros

Minha solidão imensa
Já não se expressa com/em palavras
É tal como a dor intensa
Que me faz...

...prefiro o negrume a ter a luz.

Pela tua liberdade
Não troco o meu cativeiro

Hei de tentá-lo sempre
nascida da tristeza dos momentos
e o mesmo sendo antiga e novidade
essa folha de outono que há em mim
alada e soberana
a rosa posta sobre o velho muro
a lenda esquecida – inesquecível
a sensação de ausência e de jamais
eterno voltar nada encontrar
largo pensamento: a nobre arquitetura
portas de cemitério
a doce flor na tarde – olhos de jade
e tudo some – é sem limite
a minha dor me fere e dilacera
meu claro amor te busca e te venera
(...)

E o mar do meu poema se faz
de muitos rios
de sentimentos das coisas que perdemos
o sagrado e o profano percebemos
nas janelas do sono em claro-escuro
- inventei a tarde tarde demais
e o meu verso...
o verso é a rosa... para a Rosa
posta sobre o muro
que sangra de beleza se a colhemos
e dói em mim.
(...)

A canção da Rosa Chá

Meu verso se faz
de memórias e vultos
que não mais retornarão do tempo interior
em diáfano e longo corredor
em leve paz chegando sem rumor
proclamação das trevas nas trevas
luz de espanto
tens a seiva dos sons
e o odor dos dias
e o engano das palavras
A rosa adormecida em minha mão
a branca voz das nuvens a tocar o chão
o ritmo
um ritmo de corpos no clarão
a náusea
uma náusea de viver
uma dor
a dor de Ter
e há sempre um pouco de desgosto
a caminho
e caminha no tema do poema
há penas – apenas
(...)
O olhar de Rosa com medo
o enredo
os mausoléus
os céus
beleza morta detrás/depois da porta
imagem torta debruçada sobre si
e há vozes sepultadas
cadáveres nas águas
nos vazos rosas-chá
palavras sem sentido
calada se sentindo
mentindo pra si mesma
- mentindo pra mim
(...)

Um mistério que eu trago dentro de mim
ajuda-me minh’alma a descobrir...
é um mistério de sonho – e de luar
ora me faz chorar
ora me faz sorrir!

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